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terça-feira, dezembro 11, 2012

Namorar um betinho

Bem, para começar, não tenho a certeza que ainda se diga betinho. Há 20 anos sim, era assim que se chamavam. E eu namorei com um.
Deixem-me dizer desde já em defesa do meu betinho, que não podia ser um betinho muito mau, porque a determinada altura decidiu namorar com uma moça dos subúrbios, o que o torna logo mais simpático.
Mas não se caia na tentação de pensar que não era um betinho a sério ou um betinho de segunda. Nada disso. Jogador de rugby, bebedor de cerveja, mandava uns sopapos em gajos só porque sim, tinha quinta dos avós, ia a corridas de toiros, adepto do Sporting, tudo como deve ser.
Começar a namorar com um betinho não era fácil naqueles tempos. Ficava de cara pendurada quando cumprimentava as amigas, demorava 3 horas a arranjar-me para tentar ter um ar de beta minimamente decente, mandei a minha mãe comprar-me muitos fios de prata e argolas gigantes. Demorei a perceber que não eram todos primos. Ingénua, não tinha percebido que chamavam tios e tias a toda a gente que tivesse idade para ser seu progenitor. E quando ouviam alguém chamar D. Qualquer Coisa, arrepiavam-se todas. Aparentemente, donas eram as mulheres-a-dias e a senhora da mercearia.
No primeiro Inverno do nosso namoro, arrastou-me para umas férias na neve, dolorosas aulas de ski com dolorosas botas, em manhãs que começam sempre muito cedo e são sempre muito geladas, acompanhada de betinhas que deslizavam suaves encosta abaixo enquanto eu metia os skis em cunha até chegar cá abaixo, despenteada, ruborizada de esforço, a merecer para cima de 10 chávenas de chocolate quente.
Namorar com um betinho não era fácil, porque por muito que uma moça dos subúrbios se esforçasse, não ter a morada certa, não ter o nome certo, não era coisa fácil de compor.
Para apresentar, em vez dos amigos dos colégios, tinha os amigos do liceu. E o betinho tinha alguns amigos betinhos porreiros, mas tinha outros que não se aguentavam de tanta betice, tanta missa, tanta voz nasalada, tanta causa monárquica.
À medida que o namoro avançava, começavam a levantar-se questões pertinentes como por exemplo, do-que-vão-falar-os-meus-pais-quando-conhecerem-as-alminhas-que-o-deram-à-luz. Sem viagens a Nova Iorque e sem terem passado 3 semanas na Índia.
E namorei com o betinho muito tempo, ele foi ficando um bocadinho menos betinho, em fui ficando um bocadinho mais. A determinada altura percebi que por muito que me esforçasse, não iria conseguir desencantar apalaçadas casas de família na provincía, não iria deslizar pela montanha abaixo como quem começa a fazer ski com 5 anos, não iria conseguir falar de passeios a cavalo que não fiz, nem do colégio onde não andei.
Borrifei-me nas pessoas para as quais não havia paciência e fui conhecendo melhor as simpáticas.
E a coisa correu bem, o betinho meu namorado tornou-se no betinho meu marido e juntos criamos três migalhas maravilhosas.

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